A importância de participar em Estágios e Seminários fora do Dojo.
Há vantagens?
Há. Estas são algumas delas:
1 - Outros treinadores a ministrar o treino
que são geralmente mais sábios e experientes. É importante aproveitar a oportunidade de treinar sob o olhar de pessoas diferentes. Cada treinador tem pontos fortes e fracos, vícios e ideias pré-concebidas, maior ou menor pedagogia. Poder treinar e ser corrigido por vários professores é um privilégio que muitos não sabem valorizar.
Para os mais novos, que olham para o seu treinador como um herói, é importante que vejam que noutro contexto o seu treinador é só mais um aluno que alinha com os demais e segue os ensinamentos de outros mais graduados. Às vezes ficam intrigados e vêm questionar. É uma óptima lição de vida sobre contextos, hierarquias, percursos.
2 - Ambiente diferente, sensações diferentes.
Um treino num local diferente com colegas diferentes e vários treinadores em vez de um ou dois, resulta numa mistura de dois aspectos importantes para a melhoria do karate e do desenvolvimento pessoal: variar as condições da prática e sair da zona de conforto.
É comum os atletas sentirem-se confiantes no seu ambiente onde têm boas prestações e ver o seu desempenho diminuir em ambientes que estranham. Há que treinar em vários ambientes com várias condições e circunstâncias até que a confiança impere acima de tudo.
3 - Treino mental/psicológico
Relacionado com o ponto anterior. Tem a ver com a pressão, nervosismo e receio de nos expormos em público perante outros com maior conhecimento e capacidade que nos vão avaliar. Parece mau mas é bom. Se der um passo atrás quando pedem um voluntário perco uma oportunidade de ser corrigido. Se evito alinhar na fila da frente diminuem as probabilidades de ser avaliado continuamente e ajudado mais vezes. Se não tenho treinado algo e sei que estou longe da melhor forma é normal não querer ser avaliado e prefiro que não olhem muito para mim, mas se estou a tentar melhorar algo é bom que me vejam e ensinem a melhorar os pontos fracos. Os atletas envolvidos na vertente desportiva do karate são os que menos sofrem desta pressão uma vez que estão habituados a ser avaliados nas competições. Por essa razão, são também os que se apresentam nos exames de graduação mais descontraídos e acabam por obter melhores resultados.
4 - Integração social
Os treinos conjuntos com vários dojos permitem conhecer treinadores e colegas de outros locais. Há interação, ajuda mútua e bom espírito generalizado. Os colegas revêm-se a cada evento e estranham quando alguém não participa. Perguntam aos outros poque é que X não veio. Seguem-se nas redes sociais. Amigos ou não, depende da frequência com que se juntam e da proximidade que adquirem mas formam-se geralmente bons colegas com quem se pode contar. Se são jovens e vão a competições, formam-se equipas com elementos de vários dojos. Se são adultos participam em Seminários em Portugal ou no Estrangeiro onde as familias acompanham, fazendo crescer a comitiva e fortalecer os laços.
5 - Responsabilização
Treinar no dojo é sair da escola ou do trabalho, agarrar no saco e ir treinar ou apanhar os miúdos à saída da escola e levá-los a treinar. No final é banho e jantar. Bem ou mal, está rotinado e não há muito por onde falhar.
Ir a Estágios ou Seminários requer outra logística e planeamento.
No caso dos atletas mais novos isto só significa mais trabalho para os pais, aos quais agradecemos o esforço. Mas no caso dos pré-adolescentes e adolescentes há uma virtude associada que tem a ver com a responsabilização do próprio. Ir àquele treino não é sair da escola e ir ao dojo. Ir àquele treino que geralmente é a um fim de semana implica acordar cedo, tomar um bom pequeno-almoço, sair de casa a horas porque muitas vezes o treino é longe e chegar lá requer uma ou duas horas de viagem. Implica ter preparado o saco no dia anterior, com Karategi, água e snack. Eventualmente material para tomar duche. O treino não é só uma ou duas horas como no dojo. São duas ou três de manhã e talvez outras tantas à tarde. Significa que é preciso pensar no almoço. Leva-se merenda ou vai-se a um restaurante? Há que tomar decisões. Há muitas coisas que podem correr mal e é bom que assim seja para que se possa corrigir e tudo corra bem um dia mais tarde num evento de capital importância. Chegou atrasado ao treino e já estão todos alinhados? É mau... mas corrige-se e na próxima vez já não acontece. Esqueceu o cinto e acha que a culpa é dos pais que não lhe prepararam bem o saco? Boa altura para se aperceber que essa é uma tarefa da sua responsabilidade e não dos pais.
Mais tarde não vai chegar atrasado a um campeonato nem vai esquecer-se de levar todo o material necessário. Vai chegar a atempadamente às pesagens e cumprir o peso.
Mais tarde não vai chegar atrasado a um exame de graduação nem vai esquecer-se de levar os impressos preenchidos e fotografias.
Nem tudo é Karate mas ficam os hábitos de antecipar, planear e organizar.
Não vai chegar atrasado à escola nem esquecer-se da calculadora ou da folha de teste.
Não vai chegar atrasado à entrevista de emprego nem esquecer-se do portfolio impresso.
Não vai chegar atrasado à reunião nem esquecer-se de levar a ordem de trabalhos.
Não vai chegar atrasado ao congresso nem esquecer-se da apresentação.
Não vai chegar atrasado à escritura nem esquecer-se dos documentos.
...
Em suma...
participar em eventos extra-dojo pode trazer vários benefícios para o praticante. Uns relacionados com a modalidade em si e outros com o seu desenvolvimento pessoal. Por norma, sentimos que os eventos são melhores quanto mais à vontade estamos e quantas mais pessoas conhecemos. Tudo fica mais produtivo e divertido. Quando a maior parte destes encontros implica um deslocamento de atletas e familiares torna-se complicado participar em todos mas convém fazer um esforço para estar presente em alguns. A médio prazo nota-se que os atletas que usufruem destas experiências evoluem melhor que os restantes e ganham uma noção do contexto do que se passa fora do Dojo. Por todas estas razões, incentivo todos os que tenham essa possibilidade a participar em Estágios e Seminários pontuais, para além da prática regular que desenvolvem no Dojo.