Treinos online: A omelete possível com os ovos que temos.

Às vezes somos forçados a mudar, a aprender. Tempos diferentes e circunstâncias novas obrigam a adaptações. Estes tempos de pandemia que vivemos fomentaram muitas alterações e ajustes no quotidiano das pessoas e actividades. Os clubes de artes marciais viram-se em dificuldades por não poder conduzir os treinos normalmente, com a presença dos praticantes nos dojos.

Alguns instrutores, um pouco por todo o mundo, eram já muito conhecidos por privilegiarem uma forte presença online. Eram também frequentemente criticados por estarem a adulterar a tradição e chamados de fraudes. Bem... alguns são. "Treine online connosco e obtenha o seu cinturão negro em 12 meses", "Professor credenciado faixa negra em 10 artes marciais" e outros anúncios deste género só enganam os mais desprevenidos. Os instrutores respeitáveis que, para além das suas aulas regulares, usavam a internet para divulgar ou disponibilizar os seus serviços (e produtos) eram muitas vezes "postos no mesmo saco".

Chegou o covid-19 e de um dia para o outro a esmagadora maioria dos clubes estava a dar treinos online. Não conheço nenhum treinador ou aluno que diga que prefere os treinos online aos presenciais mas quase todos reconhecem que os treinos online são úteis e acrescentam valor.


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imagem: pixabay.com


É melhor treinar online do que não treinar.
Os treinos online são úteis para complementar os treinos presenciais.

Nem tudo se pode fazer num treino online. O feedback é limitado e as correcções podem revelar-se mais difíceis. Não é possível fazer exercícios com colegas que envolvem proximidade e contacto... mas por enquanto, segundo as regras em vigor, também não o podermos fazer no dojo em treinos presenciais.

Há muitas razões que me levam a pensar que os treinos online vieram para ficar. Como já escrevi anteriormente, complementam e reforçam os conteúdos aprendidos e trabalhados no dojo.
Outra razão é a comodidade. Havendo espaço suficiente e condições para treinar em casa, pode ser mais conveniente vestir o karategi e ligar a internet do que sair do trabalho à pressa, ir para o trânsito num dia de chuva e frio para tentar chegar ao dojo "o menos atrasado possível".
Muitos adultos não vão ao dojo porque têm de ficar em casa a tomar conta dos filhos. Talvez treinos online possam contornar parcialmente essa condicionante.
Treinos com instrutores-chefe, que acontecem raramente, podem ser mais frequentes com a organização de webinars.

Na minha opinião, assegurando que os critérios de avaliação não se deterioram e os valores não são postos em causa, os treinos online podem coexistir com a actividade regular de um clube.


Experiência pessoal:
Havia um ou dois seminários aos quais gostaria de ter ido e o cancelamento dos exames de graduação também não veio a calhar mas fora isso não me posso queixar. Os meus instrutores não foram de férias. Antes pelo contrário, reforçaram a sua presença com treinos online para que ninguém ficasse sem treinar e sem apoio na sua evolução.

Em vez de 1 treino presencial por quinzena (na melhor das hipóteses 1 por semana, porque não posso ir a mais) com o meu treinador e director técnico da AKB, Shihan Teófilo Fonseca, tive 2 treinos semanais online.

Costumo participar em treinos dirigidos pelo presidente da Seiwakai em Portugal, Shihan Abel Figueiredo, 3 ou 4 vezes por época. Em vez disso, tive acesso a 2 treinos semanais online.

O Seminário Mundial da Seiwakai, que decorre anualmente no Japão, foi cancelado devido à pandemia. Em vez de um cancelamento absoluto, o Presidente e instrutor-chefe da Seiwakai, Hanshi Seiichi Fujiwara, chegou até nós via webinar onde treinaram e "estiveram juntos" colegas e amigos de vários países.


Os treinos online são a omelete possível com os ovos que temos mas quem é que não gosta de uma omelete bem feita?!